Tradução da nota biográfica do autor Edgar Allan Poe em celebração aos cento e setenta e um anos de seu falecimento. A nota, publicada no sítio eletrônico American Literature, vem acompanhada de uma introdução minha, na qual falo da presença fantasmagórica do autor americano em diversos momentos especiais de minha vida.
Eu conheci Edgar Allan Poe quando tinha mais ou menos 10 anos. Foi um “mole” que os meus pais deram, com grandes consequências para toda a minha vida.
A leitura de seus textos reforçou a impressão geral que eu tinha acerca da humanidade: de que, por baixo de um lustro de civilização, nós todos somos animais violentos e de que uma providência cega e cruel nos guia a todos para uma eliminação coletiva de todo espécime orgânico (depois que eu descobri a existência da bomba atômica, somou-se ao rol de vítimas da sanguinária Divindade mesmo a matéria inorgânica). Juro que esta foi a impressão que tive ao ler especificamente O Gato Preto, que continua sendo, para mim, o conto mais marcante do autor americano (apesar de terem surgido novos favoritos conforme fui ficando mais velho).
Esta percepção, por mais que eu tente me livrar dela, assombra a mim como o gato do dito conto, como uma sombra no canto do olho. Quando me dediquei a pesquisar a relação entre as imagens cultivadas em comum pela literatura heroico-aristocrática, pelo Heavy Metal e pela imaginação política reacionária em meu mestrado, vi que, a partir de um determinado momento na história, as representações desta tradição literária adquiriram cada vez mais esta perspectiva sombria sobre a realidade. Joseph de Maistre, autor contrarevolucionário saboiano, escreveu: [...] do ácaro ao homem, a grande lei da violenta destruição de criaturas vivas é incessantemente cumprida. Toda a terra, perpetuamente impregnada de sangue, nada mais é que um vasto altar sobre o qual todos os seres vivos devem ser sacrificados sem fim, sem medida, sem pausa, até a consumação das coisas, até que o mal seja extinto, até a morte da morte. [1] Este trecho é perfeitamente compatível com a obra de Poe. Em O Gato Preto, o narrador nos conta: Eu estou menos certo acerca da vida de minh’alma hoje que da perversão ser um dos impulsos primitivos do coração humano – uma das primeiras faculdades, ou sentimentos, indivisíveis, que dão direção ao caráter do homem. Quem não se viu, centenas de vezes, a cometer uma ação vil ou tola tão somente por saber que não deveria cometê-la? Não temos nós uma perpétua inclinação, apesar de nosso melhor juízo, de violar o que é Lei, tão somente por entendermos que assim o é? [2] A forma como a perversão do narrador é enfim punida nos faz pensar na inovação que Poe trouxe para a literatura gótica. A tradição da literatura gótica se inicia com a publicação, em 1764, da obra The Castle of Otranto, de Horace Walpole. Antes mesmo de Poe nascer já tinham sido publicadas as principais obras da primeira fase desta tradição, dentre as quais The Old English Baron (1777) de Clara Reeve, The Mysteries of Udolpho(1794), de Ann Radcliffe, e The Monk (1796), de Matthew Lewis, para falarmos aqui só da literatura anglófona. Quando do lançamento de seu Tales of the Arabesque and the Grotesque (1840), Poe se defende, em seu prefácio, da acusação de germanismo[3], ou seja, de que seu estilo derivava das histórias góticas cuja origem, popularmente atribuída, eram os países de língua alemã, forçando-nos a reconhecer que, ainda que não se admitisse sua descendência direta da tradição gótica britânica, ao menos os seus contemporâneos o viam como um autor na tradição “germânica”. Esta tradição, dos Schauer-, Räuber- e Ritterroman (literalmente, romances de “arrepio”, de “bandidos” e de “cavaleiros”), no entanto, era mais popular do que inovadora, uma vez que ela é mais ou menos trinta anos posterior ao romance de Walpole. A conjunção destes três gêneros literários na tradição gótica de língua alemã (“germanista”) reflete, de certa forma, uma aproximação que também se dava no Reino Unido, evidente pelos cenários medievais (ou que pudessem ser associados ao que Walter Scott chamou, no prefácio que elaborou para uma edição da obra de Ann Radcliffe, de feudal tyranny and Catholic superstition – razão pela qual a maior parte das obras tinham como cenário ora a Espanha ora a Itália), pela presença de bandidos e pelo elemento sobrenatural, características que estavam presentes na maior parte das obras categorizadas como pertencentes a esta tradição. A grande inovação trazida por Poe, me parece, foi seu psicologismo (e sua ironia, mas nela não me deterei - existe ensaio sobre o tema aqui). Como afirmou, no prefácio supracitado, terror is not of Germany, but of the soul. Suas personagens diferem significativamente das personagens dos romances góticos de origem britânica e de origem germânica por serem pessoas, antes de serem nobres ou membros da Igreja (apesar de eventualmente serem “nobres” e, menos frequentemente, “membros da Igreja”; a questão religiosa contra a qual se defrontaram os primeiros autores do terror gótico era menos importante na época e no país de Poe), envolvidas fatalisticamente em uma cadeia de destruição cujo amparo na realidade objetiva nunca pode ser efetivamente comprovado pelo leitor, uma vez que sua própria condição mental para verificar a supernaturalidade destrutiva do todo das ações encadeadas é a todo momento questionada. Esta estrutura funciona perfeitamente com o conto, que se centra não na longa decadência das capacidades psico-cognitivas, mas no momento exato em que uma determinada psique naufraga (no álcool e na superstição, geralmente – sem querer fazer “psicologismos” sobre o autor, dois desafios que ele mesmo parece ter enfrentado durante sua vida). Esta estrutura vemos n’O Gato Preto, como dito, mas também n’A Queda da Casa de Usher (definida pelo tropo do incesto, comum na literatura gótica, e – novamente – da punição que é sua única consequência possível, além, de é claro, a relação estabelecida entre o caráter das personagens da família Usher e sua casa), em Metzengerstein, n’A Narrativa de Arthur Gordon Pym, entre outros. Mas se vamos falar de Poe, é impossível não falarmos de sua poesia. Annabel Lee, seu último poema, se tornou um clássico da memorização (foi o primeiro poema que minha irmã memorizou completamente e o segundo momento de sua paixão pelo autor, talvez tão precoce quanto a minha e iniciada pelo mesmo conto felino, antecipando o conflito em torno da edição que meu pai tem dos Tales of the Arabesque and the Grotesque – que ele ainda a tenha por muitos anos!) e todo bom fã da literatura gótica deve conhecer de cor ao menos seus primeiros versos: It was many and many a year ago, In a kingdom by the sea, That a maiden there lived whom you may know By the name of ANNABEL LEE O poema foi integralmente interpretado, de forma brilhante, por Marissa Nadler, em seu álbum de estreia. Falar desta cantora permite que falemos um pouco da influência de Poe sobre literatos e artistas de outras vertentes. Todo o gênero no qual se inclui Marissa Nadler, que poderia ser chamado, vagamente, de Gothic Americana ou Southern Gothic, é bastante influenciado por temas recorrentes na obra de Poe e suas circunstâncias, dentre as quais a ideia de alienação, e que se desenvolvem e solidificam na obra de alguns de seus sucessores, dentre os quais Flannery O’Connor (que cita expressamente Poe entre suas influências), uma das fundadoras, com William Faulkner, do gênero literário chamado Southern Gothic (sim, não acidentalmente, o gênero musical tem o mesmo nome). Nadler, em um diálogo comumente estabelecido dentro do referido gênero do Gothic Americana, gravou com a banda de (então) Black Metal Xasthur (a banda eventualmente se voltou para o neo-folk, gênero estilisticamente próximo ao Gothic Americana, com temas mais polêmicos, no entanto, dentre os quais o anti-cristianismo, o paganismo e o nazi-fascismo; seu nome vem, dentre outras fontes, da palavra Hastur, criada por Ambrose Bierce, autor influenciado por Poe, depois citada por Robert W. Chambers e, enfim, por H. P. Lovecraft, um fã das obras de Poe). Dentro do Black Metal e do Heavy Metal a influência de Poe é ainda mais profunda. Desde o Iron Maiden, com a clássica Murders in the Rue Morgue do seu segundo álbum, The Killers, inspirada pela história homônima de Poe, até a banda de Funeral Doom Metal alemã Ahab, cujo álbum The Giant, de 2012, foi inspirado pel’A Narrativa de Arthur Gordon Pym, Poe é onipresente no estilo, em todos os seus subgêneros. A banda Ahab nos revela mais uma influência, qual seja, a de Poe sobre Melville (a banda também fez um álbum inspirado, como era de se esperar, por Moby Dick). A já citada Narrativa de Arthur Gordon Pym foi muito importante para Melville, que menciona o navio no qual Pym embarcou na história de Poe, o Grampus, em Moby Dick. Carl Schmitt e Ernst Jünger chegam a discutir sobre quem é maior, Poe ou Melville, o jurista favorecendo Melville (por conta de seu Benito Cereno) e o escritor favorecendo Poe (com base na mencionada Narrativa – creio que este seja o momento no qual eu admito que, apesar de amar Moby Dick, eu estou com o Jünger nessa; vale lembrar que esta é apenas uma das muitas referências a Poe que Jünger faz em sua carreira). Esta Narrativa também constitui o esforço maior de Poe para escrever um romance e é uma grande influência, reconhecida no próprio texto, da novella de H. P. Lovecraft, At The Mountains of Madness. A versão que eu tenho da Narrativa ainda vem acompanhada de uma curta análise biográfica daquele que considero ser o maior fã de Poe, Charles Baudelaire, que funde suas próprias visões sobre as aristocracias do espírito com o desprezo pela opinião nas sociedades democráticas, que constituíam, para o autor francês, uma zoocracia, cheirando a comércio (Baudelaire utilizou aqui a expressão que De Maistre usou para se referir à filosofia de Locke). O texto, perpetrado de ditirambos antidemocráticos, não erroneamente nos lembra que o próprio Poe, apesar de não ser um autor propriamente politizado, foi entendido por alguns como um autor suficientemente orgulhoso de sua ascendência sulista para ser considerado antidemocrático por si só, ou ao menos anti-igualitário no que se trata da questão racial estadunidense. Pessoalmente, no entanto, não creio que estas leituras da obra de Poe foquem questões importantes para um autor centrado essencialmente em questões de narrativa, técnica literária e o efeito que seu emprego causava nos leitores, e na atividade de contar histórias macabras. A grandeza de Poe também é seu desinteresse por questões políticas. É também a partir do Heavy Metal que eu cheguei ao Poe dos filmes. A banda norueguesa Theatre of Tragedy, uma das fundadoras do estilo conhecido como metal sinfônico, usa como sample em uma de suas músicas (And When He Falleth, certamente na minha lista das cem melhores músicas de Heay Metal) uma passagem do filme The Masque of Red Death, com o fantástico Vincent Price. O filme em si, mais uma das adaptações do Roger Corman (cuja qualidade, enquanto adaptação, é contestável), vale, em minha opinião, pela atuação de Price. Se é bem verdade que eu não vi todas as adaptações de Poe, devo admitir que, pelas muitas que vi, ainda estamos, nós, os fãs, esperando uma grande obra redentora. Mas o próprio Poe nos aponta as dificuldades de filmá-lo. Além de poeta em prosa e em verso, o autor estadunidense refletia bastante sobre as atividades que desempenhava. Seus ensaios críticos Philosophy of Furniture, The Philosophy of Composition e The Poetic Principle, apesar de por vezes penetrados por elocubrações idealistas, exibem um pragmatismo grande. Em especial no primeiro, há uma construção profundamente imanente do senso de localização e de sua relação com a perspectiva do sujeito, uma interlocução que se encontra quase perfeitamente elaborada no primeiro parágrafo d’A Queda da Casa de Usher. Quando parece falar só de design de interiores, Poe está falando também dos impactos sociais da existência de uma aristocracia de sangue em terras britânicas e do que constitui o bom gosto que se extrai da própria organização dos espaços, com profundas implicações para sua literatura. Ao mesmo tempo que extremamente descritivo em seus contos, suas descrições nunca são mero acúmulo de imagens. Uma fina racionalidade as perpassa, como um respeito às distâncias corretas entre as imagens, que nos relembra que, mais do que uma grande moral, um texto é bom no tanto em que nos faz mergulhar nele e nos atrai para si. A prosa de Poe depende de um cineasta que tenha tanta habilidade com seu modo narrativo quanto Poe tinha com o dele. Foi pedido que eu fizesse uma introdução ao texto que traduzi. Fracassei. Interessou-me mais falar sobre quem é Poe para mim. Eu cresci, a partir de um determinado momento da minha infância, como um iceberg, mais debaixo d’água do que acima, mais para dentro do que para fora. E, dentro, quem me fazia companhia era Poe. Quando fui apresentado ao Heavy Metal, outro desses eventos que alteraram o curso de minha jornada, vi no estilo coisas que me atraíam em Poe. Quando mudei de direção em minha carreira, indo para a academia, fui novamente atraído pelos temas que me atraíram quando li Poe pela primeira vez. Ano passado, compareci a um seminário promovido pelo Grupo de Estudos do Gótico, o mais importante grupo de pesquisadores voltado para o estudo da literatura gótica (tã dã) no Brasil. A mesa que encerrava as discussões do dia em que apresentei minha pesquisa (sobre “Drácula e o conceito de aristocrata”, passando pelo debate entre Sadleir e Summers acerca do papel do aristocrata no romance gótico) era sobre Edgar Allan Poe e a “fundação do gótico norte-americano” (título que, se eu não me engano, foi rapidamente contestado pelos próprios membros da mesa, com justiça). Entre diversos ensinamentos passados com um humor de celebração, um dos que gerou maior comoção foi o de que havia fortes indícios de que “nosso Edgar” tinha lido Frankenstein. Havia sido achada uma carta do filho de uma amiga do Poe que confirmava que, na biblioteca de sua mãe, havia uma pilha dos livros favoritos de Poe e nesta constava a criatura de Mary Shelley (fazendo uma ponte bem direta entre Poe e aquela temporada chuvosa na Suíça cujas consequências nos assombram até hoje, não só em nossos pesadelos, mas também em nossas reflexões sobre o papel da ciência na vida do homem [e mesmo sobre o que significa ser homem, em todos os possíveis sentidos desta frase]). A plateia foi ao delírio com este anúncio. Quando abriram para as perguntas, veio uma série de confissões, todas mais ou menos parecidas com a que fiz logo acima, sobre a descoberta de Poe: uma criança sozinha, um livro assombrado e uma paixão eterna, que atravessa o tempo e o espaço. Este dia, como alguns poucos outros em minha vida, fez com que eu reafirmasse minha escolha pela Academia. A vida acadêmica não só servia para que o conhecimento do homem sobre si e sobre a natureza fosse expandido, mas também para unir pessoas concordes, ou seja, que partilhavam um interesse comum, em um espaço não fragmentado por dissensões político-ideológicas, e ensinar um método que, apresentando suas próprias noções de virtudes e excelências, pudesse levar a pequenas vitórias, apesar de nossos fracassos enquanto espécie no mundo em geral. Senti, neste dia, que era parte de algo que, mesmo que maior do que mim, não me transformava em um número. Os impactos desse dia colho até hoje. Minha pesquisa no doutorado é sobre um outro autor que amo, Bram Stoker. Mas essa é história para um outro artigo. O artigo que se segue foi publicado no sítio eletrônico American Literature. Espero que a leitura seja proveitosa. Hoje comemoramos cento e setenta e um anos de morte de Poe, cento e setenta e um anos que sua voz, vinda do além, nos alcança e nos faz contestar o estatuto de nossa realidade. -----------------------------------------------------xxx----------------------------------------------------- EDGAR ALLAN POE Edgar Allan Poe, nascido em Boston, Massachusetts, em 1809, viveu uma vida cheia de tragédias. Americano, e considerado parte do Movimento Romântico, no subgênero do Dark Romanticism [3], Poe se tornou um exímio poeta, escritor de contos, editor e crítico literário, ganhando fama mundial por seus contos de terror sombrios e macabros, praticamente inventando o gênero da literatura gótica. Visite nossos guias de estudo para O Poço e o Pêndulo e O Corvo. Embora seus escritos fossem bem recebidos, Poe enfrentava dificuldades financeiras e também era atormentado por “surtos de depressão e loucura”. Tendo se tornado órfão ainda jovem, depois da morte de sua mãe e do abandono de seu pai, Poe foi acolhido por John e Frances Allan, de Richmond, Virgínia, não tendo sido nunca, no entanto, formalmente adotado [4]. Poe se matriculou na Universidade da Virgínia, permanecendo lá por pouco tempo, porém, tendo sido forçado a abandonar seus estudos devido à carestia econômica. Buscando alternativas, se alistou no Exército, só para fracassar em sua tentativa de se tornar um oficial (em West Point). Poe foi um dos primeiros escritores americanos a se dedicar especialmente ao conto e é responsável pela invenção do gênero da ficção policial. Mas é por suas histórias de terror que ele é mundialmente famoso hoje, contos famosos e amplamente conhecidos, dentre os quais: O Poço e o Pêndulo, O Barril de Amontillado, O Coração Delator, O Gato Preto, A Queda da Casa de Usher e A Carta Roubada. Menos conhecido é sua prolífica atividade enquanto crítico literário. Em resposta a uma de suas críticas, Nathaniel Hawthorne escreveu: “Não me importo com nada além da verdade; e sempre aceitarei muito mais prontamente uma dura verdade, em relação aos meus escritos, do que uma mentira adoçada. Confesso, no entanto, que o admiro mais como escritor de contos do que como crítico deles.” Poe publicou sua primeira obra, uma coleção anônima de poemas, Tamerlane and Other Poems em 1827. Mudando seu foco para a prosa e, após muitos anos escrevendo para periódicos e periódicos, tornou-se conhecido pelo estilo próprio de sua crítica literária. Durante todo este período, Poe se deslocava entre Baltimore, Filadélfia e Nova York, sem residência fixa. Seu poema épico, O Corvo, de 1845, foi publicado enquanto residia em Baltimore, tornando-se um sucesso instantâneo. Poe planejava lançar seu próprio jornal, The Stylus, mas morreu em 1849, de causas desconhecidas, aos 40 anos, antes que pudesse tornar esse projeto uma realidade. Poe teve muitos imitadores e, após sua morte, clarividentes costumavam “receber” seu espírito e “canalizar” novos poemas e histórias, na tentativa de lucrar com sua fama e talento. Em uma triste ironia, Poe morrera sem um tostão. Seu trabalho influenciou também a ficção científica, nomeadamente Júlio Verne, que escreveu uma sequência para o único romance de Poe, A Narrativa de Arthur Gordon Pym de Nantucket, chamado Um Mistério Antártico. Considerado o escritor gótico americano por excelência, o épico conto de Poe, A Queda da Casa de Usher (1839) nos desvela a tragédia de Rodrick Usher, personagem que sofre de uma variedade tão grande de transtornos mentais que supera mesmo os à época inventados (ou nomeados) pela psicologia: hiperetesia (sobrecarga sensorial), hipocondria e ansiedade aguda. É um conto estelar que certamente perturbará e encantará o leitor. Tudo o que vemos ou parecemos é apenas um sonho dentro de um sonho. Alunos e professores podem se beneficiar de nosso Gothic Literature Study Guide e do capítulo de D. H. Lawrence sobre Poe em seu livro Studies in Classic American Literature. Desfrute de muitas das histórias de Poe em nossas coleções: Gothic, Ghost, Horror & Weird Library, Halloween Stories e Mystery Stories. [1] A tradução é minha. No original, lê-se: […] s’accomplit sans cesse, depuis le ciron jusqu’à l’homme, la grande loi de la destruction violente des êtres vivants. La terre entière, continuellement imbibée de sang, n’est qu’un autel immense où tout ce qui vit doit être immolé sans fin, sans mesure, sans relâche, jusqu’à la consommation des choses, jusqu’à l’extinction du mal, jusqu’à la mort de la mort. (MAISTRE, Joseph de. Œuvres complètes de J. de Maistre. 14 vols. e index. Lyon/Paris, 1884–7, v. 2, p. 5) [2] A tradução é minha. No original, lê-se: Yet I am not more sure that my soul lives, than I am that perverseness is one of the primitive impulses of the human heart - one of the indivisible primary faculties, or sentiments, which give direction to the character of Man. Who has not, a hundred times, found himself committing a vile or a silly action, for no other reason than because he knows he should not? Have we not a perpetual inclination, in the teeth of our best judgment, to violate that which is Law, merely because we understand it to be such? Disponível em: https://americanliterature.com/author/edgar-allan-poe/short-story/the-black-cat. [3] Optamos por não oferecer uma tradução para esta tradicional designação da literatura romântica de temas macabros e sobrenaturais de extração estadunidense. Apesar de não sermos insensíveis às utilizações do termo fora dos Estados Unidos da América, acreditamos que este nome, fundada em uma essencialização de determinados elementos da literatura assim denominada não se adequa tão bem à compreensão da história literária e, em especial, da história literária com temas que possam ser classificados, não sem debate (que não encontra lugar nesta tradução, no entanto), como próprios da literatura gótica. [4] Aproveite este fascinante pano de fundo em The Many Names of Poe.