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“A ficção científica costuma ser descrita, até mesmo definida, como extrapolação. Espera-se que o escritor de ficção científica tome uma tendência ou fenômeno do presente, purifique-o e intensifique-o para efeito dramático e estenda-o ao futuro.”[1] É assim que Ursula K. Le Guin começa a introdução do livro A mão Esquerda da Escuridão, um clássico da ficção científica, que, em linhas gerais, se propõe a pensar o contato político entre humanos e uma sociedade não organizada de acordo com o gênero. Nos termos da citação inicial,

Nas primeiras linhas de “Genealogia da Moral”, Nietzsche anuncia a profundidade do desconhecimento do ser humano acerca de sua humanidade e de sua condição enquanto Humano 1.  As notas do subsolo, extremamente curtas se comparadas com outras obras reconhecidamente extensas do romancista russo, não deixam a desejar em profundidade literária em momento algum por seu número de páginas. O diálogo constante com o psicológico, a loucura e o absurdo são elucidados ao final do livro com a expressão “vida vivida”. A vida vivida não é

Comentário ao artigo de Julie Stone Peters, intitulado Law, literature and the vanishing real: on the future of an interdisciplinary illusion, de 2005. O artigo completo, contendo esse comentário, será publicado no livro do I Seminário Internacional Trabalho das Linhas: Estética, Política, Direito (no prelo), que está sendo co-organizado com o Laboratório Moitará. Crédito da imagem: René Magritte, La Reproduction Interdite, 1937. Direito e Literatura: uma ilusão? O artigo de Julie Peters Law, literature and the vanishing real: on the future of an interdisciplinary illusion (2005)

Tradução da entrevista concedida pelo filósofo Achille Mbembe ao canal France Culture sobre o seu novo livro Brutalisme (La Découverte, 2020), realizada no dia 25 de janeiro de 2020. Pela proximidade entre o que Mbembe denomina de brutalismo e o contexto brasileiro, escolhemos, para ilustrar esta publicação, uma imagem das demolições realizadas na comunidade Vila Autódromo, removida quase completamente sob o pretexto da construção do Parque Olímpico, no Rio de Janeiro. Introdução Brutalismo. A palavra refere-se, espontaneamente, a um movimento arquitetônico famoso pelo uso eficiente

Podemos dizer, sem dúvida alguma, que as obras Por Marx e Ler O capital[i], publicadas em 1965, foram as mais impactantes do filósofo franco-argelino Louis Althusser. Nelas encontramos grande parte de seu projeto filosófico, que consistia em conferir um status cientifico ao trabalho desenvolvido por Marx a partir de 1857, mais especificamente, em sua obra de maturidade, O capital. Nesses dois textos Althusser utiliza o conceito de “corte epistemológico” para desenvolver a ideia de que o trabalho de Marx sofreu uma mudança repentina, ao passar

“ A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso, a palavra foi feita para dizer.”                                                                                                               Graciliano Ramos “[…] Vou escrevendo meus versos sem querer, como se escrever não fosse uma cousa feita de gestos, como se escrever fosse uma coisa que me acontecesse, como dar-me o sol de fora. Procuro dizer o que sinto sem pensar em que sinto. Procuro encostar as palavras à ideia e não precisar dum corredor do pensamento para as palavras. Nem sempre consigo sentir o que

Notas para uma nova relação filosófica entre o material e imaterial Para os povos não-ocidentais a relação com a natureza não é exatamente uma relação. Os corpos humanos são tão parte do (que a cultura ocidental convencionou chamar de) meio ambiente quanto a água dos rios, o vento, as árvores e os animais irracionais. Assim, o planeta é tido como uma imensa casa coletiva, onde cada ser animado, inanimado, material ou etéreo tem funções bem definidas e interdependentes. Mesmo com o advento do sistema exploratório

Robert Richardson, premiado biógrafo de pensadores como Ralph Waldo Emerson, Henry David Thoreau e William James, faleceu no dia 16 de junho deste ano (2020). Através da tradução do prólogo do livro William James: In the Maelstrom of American Modernism (2006), prestamos a nossa homenagem e indicamos os seus livros para os leitores deste site. Para acessar a versão original do texto, publicada no Blackbird Archive, consultar aqui. Prólogo do livro William James: In the Maelstrom of American Modernism (2006), por Robert Richardson Ele já

Vamos encarar. Somos desfeitos uns pelos outros. E se não o somos, falta algo em nós. Judith Butler É notório que, durante a pandemia causada pelo novo coronavírus, os casos de violência de gênero aumentaram significativamente. Com o afrouxamento dos laços sociais externos ao ambiente familiar e a crise econômica decorrente do isolamento, ficou evidente que o marcador de gênero opera como verdadeira ordem classificatória de precarizações. Nesse sentido, poderíamos fazer referência ao aumento dos casos de violência física contra mulheres, bem como ao número

Este ensaio é um diálogo com o livro Avian Reservoirs: virus hunters & birdwatchers in Chinese sentinel posts (2020), do antropólogo Frédéric Keck. Em sua inovadora pesquisa, Keck observa que o enfrentamento às epidemias acelera a difusão de dispositivos de caça, antecipação e sentinela. Diante das novas condições, como poderíamos pensar o funcionamento das democracias? No Brasil, estaríamos vivendo uma batalha das sentinelas? Introdução: Kafka e a Justiça como caça No capítulo VII de O processo, segundo a divisão proposta por Max Brod, Josef K

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