Fannie Lou Harmer foi uma importante ativista pelos direitos civis dos negros americanos. Sua Freedom Farms tornou-se um modelo cooperativo projetado para oferecer justiça econômica aos agricultores negros mais pobres do sul da América.
Além da atividade política, Harmer também atuava na comunidade religiosa, onde muitos ativistas encontravam amparo também para suas reivindicações políticas.
A potência de sua voz nos encontros religiosos ou nas caminhadas pelos direitos civis foi uma de suas importantes contribuições aos seus companheiros e aqueles que vieram depois. Divulgamos aqui o álbum "Songs my mother Taught me", lançado em 2015 pela Smithsonian Folkways a partir de um registro restrito das performances da ativista que reúne canções tradicionais do gospel americano e está disponível nas mais diversas plataformas digitais. A seguir a tradução de uma resenha do álbum feita por Tim Stenhouse para o site especializado Ukvibe.org, disponível aqui.
Fannie Lou Harmer “Songs my mother Taught me”
Trata-se de um documento histórico tanto social quanto musical e abrange um período crítico nas relações raciais dos EUA - o período do ativismo afro-americano durante a luta pelos direitos civis. Fannie Lou Hamer incorpora essas lutas pelas quais tantos lutaram durante os anos 1960 e sua história de vida, supremamente registrada em lines notes extensas por mais de trinta páginas, é digna de um documentário. Das origens mais humildes, trabalhando nos campos de algodão de uma plantação no sul, Hamer avançou lentamente e, em 1964, concorreu ao Congresso em sua terra natal, Mississippi, tornando-se membro fundador do Partido Democrático da Liberdade do Mississippi (MFDP). Ela concorreu ao Senado e foi derrotada, embora poucos negros fossem registrados na época devido a restrições do racismo. Quanto à música, ela originalmente estava disponível apenas em uma fita restrita, foi remasterizada e dá uma verdadeira indicação das proezas de Fannie Lou Hamer como cantora de direitos civis com um background gospel. As músicas são em si, no microcosmo, uma história da experiência afro-americana nos Estados Unidos e a voz vem diretamente do coração. Eles cobrem alguns dos cânones mais famosos do gospel com canções tradicionais como “I’m going down to the River of Jordan”, “This little light of mine” e uma emocionante chamada e resposta em “Certainly Lord” para citar apenas três. É importante enfatizar que a música nunca parece exagerada, pois os textos são formulados na luta cotidiana pela dignidade humana. Fannie Lou Hamer termina a gravação memorável com o clássico de todos os tempos “Amazing Grace” e nos perguntamos o que a então jovem Aretha Franklin fez da entrega[i]. Hamer não foi de forma alguma a única cantora gospel a interpretar esse número e Mahalia Jackson o cobriu com uma versão quase definitiva, mas, como as notas internas da capa indicam corretamente, essa música em particular teve uma ressonância importante para o Movimento dos Direitos Civis, uma vez que expressava a justiça moral da luta contra a segregação racial nos Estados Unidos. Incluem-se uma entrevista entre Fannie Lou e Julius Lester de 1965, durante a qual Hamer fala sobre o que era realmente ser uma fazendeira cooperativa e como ela procurava melhorar sua vida, e um trecho do discurso em que fala sobre a luta pelos direitos civis e como relaciona isso com suas crenças religiosas. Outros cantores do gospel surgiriam na década de 1960, como Marion Williams e Shirley Caesar, mas nenhum teve tanto impacto no cenário político mais amplo quanto Hamer. Merecem sua atenção igualmente os lançamentos anteriores intitulado “Voices of the Civil Rights Movement: Black American Freedom Songs 1960-1966”.
[i] O autor se refere a versão histórica do álbum duplo, “Amazing Grace”, lançado em 1 de junho de 1972 pela Atlantic Records. A apresentação foi gravada ao vivo em janeiro de 1972 na Igreja Batista Missionária New Temple em Los Angeles, com o reverendo James Cleveland e o coral da comunidade do sul da Califórnia e representa um símbolo na luta pelos direitos civis.